O resultado da eleição presidencial inaugurou uma nova era no Brasil. Não vou discutir se é de vanguarda ou retaguarda, se é de modernismo ou de “atrasismo”, se é de democracia ou da falta dela. Este papel não e meu… meu papel é de cutucar você e de provocar uma reflexão. Parece-me as vezes que outros colegas jornalistas esqueceram disso, assumindo o claro papel de jornaleiros.
Bem, vamos lá. Ando ligando o atual momento do país com o histórico poema Bergamaniano “E agora, José?”do aclamado mineiro Carlos Drummond de Andrade. Estas linhas, cunhadas em meio a segunda guerra e o turbilhão do Estado Novo, versam sobre a inquietude e a incerteza sobre o próprio futuro. Não fica mais existencial que isso.
As belas linhas de CDA podem ser claramente traduzidas através dos tempos na realidade a ser enfrentada pelo Partido dos Trabalhadores a partir de agora. Sem as mãos na máquina pública, o PT verá seu séquito de militantes falir, assim como as próprias reservas “internacionais” do partido serem gastas para sustentar seus caciques e os processos vindouros. E agora, Jose?
O setor de viagens & turismo, incluindo ai a hotelaria e entretenimento, também vive seu momento CDA. “Sozinho no escuro/qual bicho-do-mato/sem teogonia/sem parede nua/para se encostar/sem cavalo preto/que fuja a galope,/você marcha, José!/José, para onde?”. Estamos ai, sem ajuda de Deus, sem para quem reclamar, sem apoio político, e sem ter como fugir da situação que nos encontramos. Estamos ancorados nos nossos seis milhões de turistas desde o paleozóico e, sem articulação política, continuaremos sem cavalo preto que fuja a galope. Eu não acredito mais em um ministério do turismo exclusivo e que tenha verbas para planejar e executar a nossa saída deste buraco em que nos encontramos. Claro que resolvendo os problemas de segurança e de infraestrutura de norte a sul teremos uma avenida de consolidação do nosso país como destino desejado dos países ricos. Mas, vá… isso vai levar uns anos, né? Sobreviveremos ou continuaremos expectadores da derrocada de nossos hotéis e parques temáticos? E agora, José?
Precisamos de promoção e publicidade hoje. Incentivos fiscais hoje. Flexibilização de contratos de trabalho hoje. Credito incentivado hoje.
Enquanto inicia-se em 2 de janeiro uma nova temporada do Game of Thrones (maior seriado da história) da política brasileira, os white walkers continuam vindo, como uma horda de zumbis do gelo, esvaziando os hotéis da Barra da Tijuca, atrasando os papagaios do BNB nos resorts do Nordeste, transformando o HopiHari em um perigo real & imediato aos seus frequentadores e diminuindo rotas de empresas aéreas. E agora, José?
Nesta analogia, roubada de Benioff & Weiss, nós não temos lugar entre os sete reinos (nem entre os sete partidos…) nem força para reivindicar a independência do nosso setor. Acreditando no novo ocupante do Trono de Ferro, não existirão indicações políticas dos tradicionais capitães hereditários da nossa pasta. Segundo Sir Bolso (até que ficou engraçado!), a indicação para o gestor público do turismo deve ser técnica. Entendi. Nós, por acaso, temos um nome de consenso para indicar ou vamos buscar nosso indicado entre os Lannisters de sempre?
Eu sei que política é a arte do possível e agora temos que buscar o impossível entre nós, para podermos, fortes e em grupo, realizar o possível neste novo dia que se anuncia. Esta é a nossa grande oportunidade. A oportunidade de exigir o cumprimento de promessa de campanha e a nomeação de um executivo de estatura que leve o Brasil turístico deste atoleiro de seis milhões de visitantes, para o éden dos destinos desejados.
Com trabalho, recursos suficientes e distância das obrigações político-regionais de sempre, em quatro anos dá para incomodar a concorrência latino-americana e asiática, com todo respeito. Os planos de trabalho e sugestões de estratégia estão aí pois, por longo tempo falamos sobre isso entre nós mesmos. Somos um grupo valioso, um setor promissor que vê agora a chance de reivindicar seu lugar sob o sol que se anuncia.
Deve existir entre nós alguém sem passado sindical/associativo, sem restrições de mercado, nem cheque devolvido ou esqueleto no armário, ora bolas. Somos bem formados e todos com uns sucessos importantes no currículo. Se eu pudesse sugerir alguém, minhas fichas douradas teriam o nome Francisco Neto escrito nelas. Todos conhecemos a trajetória do Rio Quente Resorts (eu até um pouco melhor que a maioria) e o sucesso meteórico da empresa é fruto de uma grande equipe multidisciplinar, mas a figura do Neto como aglutinador e executor de estratégias é inegável. Não é disso que precisamos? De uma pessoa nossa, de hotel, de agencia, de eventos, de propriedade fracionada e, considerando os fretamentos, de transporte aéreo? Não precisamos de uma pessoa que emancipou município, distribuiu conhecimento e permitiu a sua equipe construir junto com ele talvez a empresa de turismo mais valiosa do Brasil? Eu quero construir um futuro melhor. Quero um setor mais unido em prol das nossas necessidades e não das nossas entidades tão pulverizadas. Precisamos escolher um nome e exigir a nomeação junto com fundos e autonomia para executar um plano consistente e longevo. Se vai ser ministério, autarquia, secretaria executiva ou quintal da dona Nonô, não me interessa. Então ABAV, ABIH, ADIT, Associação de Resorts, BITO, ABEOC, ABRACEFF, ABEAR, ABRESI, ABRASEL, Brasil C&VB, entre outras entidades: E agora, Jose?
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality