História da Fenavinho será retratada em livro
É sugestivo o título dado pelos autores do livro “Fenavinho – Mais do que uma festa”, cujo lançamento está previsto para o final de 2022. A Festa Nacional do Vinho, realizada em Bento Gonçalves pela primeira vez em 1967, de fato é muito mais do que uma festa – é tão marcante que estabeleceu o município em duas eras, antes da Fenavinho e após a Fenavinho.
Dimensionar esse impacto sobre a cidade e sua gente compõe um dos espectros da obra. Mas é reunir o legado da Fenavinho num documento único, de modo a apresentar a festa, organizar suas informações e resguardar sua memória que se configura o principal propósito do livro. “Há uma ausência de um conjunto de informações organizado sobre a Fenavinho, por isso a proposta da obra, para preservar sua história”, argumenta o autor da publicação, o jornalista Fabiano Mazzotti, que contará com o auxílio do também jornalista Itacyr Giacomello na empreitada.
A Fenavinho foi responsável por trazer à tona um sentimento de orgulho das origens de seu povo, construídas principalmente a partir da cultura da uva e do vinho legada pelos imigrantes italianos. Esse forte elemento identitário promoveu um reconhecimento imediato do bento-gonçalvense com sua história. E também com a festa.
Acolhida pela comunidade – e construída com sua força -, a Fenavinho projetou a cidade Brasil afora, principalmente com o atrativo do icônico vinho encanado. O tal vinho nas ruas despertou a atenção da mídia nacional e levou pela primeira vez ao município um presidente da República – Humberto de Alencar Castelo Branco. Bento passou a ser conhecida nacionalmente, trazendo ainda mais fama à sua bebida-símbolo e chancelando a cidade como a “Capital Brasileira do Vinho”.
Presidida pelo empresário Moysés Michelon (morto em 2017), a primeira edição da festa ainda apresentou ao país outro ofício local, a produção de móveis. Além disso, ajudou a acelerar a infraestrutura viária de uma de suas principais vias de acesso – com o asfaltamento da estrada São Vendelino, hoje BR-470 – e também do próprio município, com a construção do Parque de Eventos. Erguido especialmente para a ocasião, o espaço foi o embrião para estimular, anos depois, a criação de outros eventos, como a Movelsul. “A Fenavinho representa nossa grandeza como município”, resume Giacomello.
“Fenavinho – Mais do que uma festa” está em fase de inscrição na Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal. Mazzotti e Giacomello pretendem rechear a publicação com fotos, curiosidades e uma coleção de depoimentos de personagens que construíram e participaram da festa. A comunidade também está convidada a abrir o baú de casa e colaborar com imagens e todo o tipo de memorabilia da festa que possam ter.
Para ajudar nesse propósito, contam com a própria identificação comunitária que possuem. Autor de seis livros, Mazzotti escreveu o recente “Um século alviazul”, sobre o centenário do Clube Esportivo, e gosta de abordar em suas obras personagens, hábitos e costumes de sua cidade, como os registrados em “O livro do capitel”, acerca dos pequenos templos religiosos erguidos pelas estradas do interior. Embora tenha alcance nacional, poucos acontecimentos definem Bento tão bem quanto a Fenavinho. “A Fenavinho é um patrimônio imaterial do município. Essa obra é necessária pelo significado que ela tem na vida das pessoas e por sua contribuição à transformação de Bento Gonçalves”, opina.
Giacomello é um dos jornalistas mais antigos em atividade em Bento. Aos 82 anos, foi correspondente do antológico Diário de Notícias – do império Diários Associados, de Assis Chateaubriand – vereador e fez parte de diretorias como do Clube Ipiranga e da APAE. Em sua trajetória, sempre teve íntima ligação com a festa, seja a divulgando como jornalista, seja integrando a comissão organizadora da festa. “A Fenavinho uniu uma comunidade inteira”, conta o hoje colunista do jornal Semanário.
Além do livro, a intenção dos autores é organizar uma exposição fotográfica sobre a transformação do Parque de Eventos – até hoje chamado pelos locais de Parque da Fenavinho -, agendada para abrir à visitação durante a vindima de 2023. Desde sua criação, houve 16 edições da festa, sendo a mais recente em 2019, quando ressurgiu após um período de oito anos de hiato por meio do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG).