Conhecido como o “hotel mais verde da Holanda”, o Jakarta, em Amsterdã, implementou práticas para gestão e uso da água, da energia e de resíduos e conta ainda com uma minifloresta subtropical em seu átrio que resfria o ambiente
O Hotel Jakarta, em Amsterdã, se vende como “o mais verde da Holanda”. Pelo menos nenhum outro que também tenha implementado práticas de sustentabilidade, para gestão e uso da água, da energia e de resíduos, pode se gabar de ter uma minifloresta subtropical em seu interior.
Sim, todo o design foi concebido para abrigar palmeiras de 10 metros de altura, além de outras árvores e plantas da Indonésia, no átrio central do edifício, que alcança 30 metros. É uma espécie de “selva urbana”, instalada em um hotel criado para ser luxuoso e sustentável ao mesmo tempo.
O hotel recebeu o certificado “excelente’’ do selo Breeam, com uma pontuação de 71,81%. Presente em mais de 70 países, o selo é um dos mais antigos de sustentabilidade do mundo. Breeam significa Método de Avaliação Ambiental do Building Research Establishment (BRE), que é uma instituição inglesa com alto nível de exigência.
Logo na entrada do Jakarta, que cobre uma área de 422 m², o hóspede é abraçado pela minifloresta subtropical. Oito bananeiras estão distribuídas no espaço, realizado em cooperação com os profissionais do Hortus Botanicus, de Amsterdã.
E só esse vasto jardim já cumpre um papel importante no consumo de energia. Sozinho, ele é capaz de resfriar o interior do hotel em 6 graus, o que já ajuda muito, por dispensar o ar-condicionado, que raramente precisa ser utilizado.
“Se algum hotel holandês conseguir uma pontuação maior que a nossa com a Breeam é porque o projeto do hotel é mais recente. Usamos o que havia de mais moderno em 2013, quando o Jakarta começou a ser desenvolvido”, diz Pascal Lesimanuaja, gerente de vendas e de marketing do hotel, inaugurado em 2018.
São várias as razões para a classificação do hotel, projetado pela empresa holandesa SeARCH Architecture and Urban Planning. Propriedade da WestCord Hotels, o Jakarta possui fachadas de vidro transparente, garantindo que a luz natural entre em seu interior. Assim, a necessidade de ligar as lâmpadas de LED, a única usada no hotel, por consumir menor energia, é reduzida.
Sempre que possível, o concreto convencional foi substituído por madeira na construção. Desse material foi feita a estrutura de suporte principal com 30 metros de altura, assim como as vigas, as colunas e os tetos. Para o trabalho de acabamento, foi usado o bambu. Pintura e papel de parede foram dispensados por conterem substâncias poluentes.
“Praticamente tudo o que usamos foi madeira, que responde por 90%. Só 10% foi aço ou concreto. A base precisou ser de concreto, por questões de segurança”, afirma Lesimanuaja, lembrando que os 176 quartos para hóspedes são containers de madeira colocados uns sobre os outros. “Algo como uma montagem de Lego”, brincou ele. A diária custa de 200 euros até 400 euros, dependendo do quarto escolhido.
O espaço conta com 1.700 m2 de painéis solares no teto e nas fachadas leste e sul, o que garante de 150.000 a 200.000 kWh (quilowatt-hora) por ano. “Isso equivale ao que 250 casas consomem por ano. Praticamente tudo no nosso prédio pode ser usado com a energia gerada aqui mesmo”, diz Lesimanuaja.
Como o projeto deu preferência ao vidro triplo para toda a fachada da construção, o resultado foi um bom isolamento térmico. No inverno, é mais difícil para o frio exterior entrar no Jakarta, assim como o calor, no verão.
Ainda foi desenvolvido para o hotel um sistema de armazenamento de calor e frio conhecido como “thermal buffer”, que foi instalado no solo. Assim, o calor coletado durante o verão pode ser usado para aquecer o local no inverno e vice-versa.
A água da chuva também é coletada (em reservatório com capacidade para 160 mil litros) e usada para regar a minifloresta. E quando se trata de chuva, Amsterdã é uma boa fonte, já que a sua pluviosidade média anual é de 844 mm, espalhada ao longo do ano.
O Jakarta também é elogiado pelo sistema que implantou para evitar o desperdício. Todo o resíduo de alimentos do restaurante (especializado em comida da Indonésia) e também da padaria do hotel é tratado no próprio local e enviado a uma empresa que transforma o material em fertilizantes ou biocombustíveis.
O tema da Indonésia faz referência ao passado colonial do país, que proclamou a sua independência da Holanda, em 1945, além de simbolizar a conexão marítima histórica entre Amsterdã e a Ásia.
A Ilha de Java, onde o hotel foi construído, ao norte da capital holandesa, foi a base da Netherlands Steamship Company, de 1910 a 1970. De lá, partiam os navios com destino a Jacarta e outros pontos na Ásia levando mercadorias e passageiros.
Daí a planta do hotel em formato de um triângulo. É como se o hotel apontasse o caminho do mar. E daí também vem o conceito de dois mundos conectados, com o Jakarta proporcionando um sopro verde na cosmopolita Amsterdã.