Consumo de clientes finais cresceu ao longo do isolamento social e passou a responder por 62% das vendas da Sicilianess, ao passo em que bares e restaurantes reduziram compras
A Sicilianess, importadora especializada em vinhos italianos, registrou crescimento nas vendas equivalente a 22% em 2021 em relação ao ano anterior, assistindo a um movimento que antes da pandemia poderia ser classificado de improvável: a inversão de volume na demanda entre os públicos B2B e B2C. Até 2019, a empresa tinha como principais compradores os bares e restaurantes da Cidade de São Paulo, respondendo por um percentual de 63% do total das vendas. Com o fechamento do comércio, em 2020, este número caiu para 45%, e em 2021, para 38%.
Em contrapartida, com o isolamento social, a importadora percebeu o aumento da procura pelos vinhos de forma direta, o que a levou a mudar completamente sua estratégia de comercialização. “Decidimos então investir em vendas online, marketing digital e vendas personalizadas com apelo para os clientes finais”, explica Ana Salustiano, fundadora da Sicilianess. Segundo ela, a empresa passou a investir também em estoque, como forma de minimizar o impacto cambial pós- pandemia, na ordem de 38%.
Como referência, Ana destaca que quando a Sicilianess iniciou suas operações, o câmbio do euro era equivalente a R$ 2,30. “Hoje temos uma média de R$ 6,40, uma alta de 178,26%. Sem falar dos aumentos da carga tributária, custos logísticos e também da produção de vinhos na origem”, diz ela, lembrando que, em 2010, os brasileiros tinham muito mais acesso a vinhos de altíssima qualidade e valor agregado. “Há 12 anos, podia-se experimentar mais. O chamado share of wallet ficou quase o mesmo, então houve uma busca por produtos de melhor custo benefício, que caibam no bolso”, analisa.
Para ela, o brasileiro possui um perfil bastante aberto às novidades, porém ainda tem paladar tímido e segue como parâmetro os vinhos da América do Sul, em especial Chile e Argentina. “Nossa proposta é oferecer uma experiência única, diferente. Na Itália, maior produtor de vinhos do mundo, há uma centena de uvas chamadas de autóctones, ou seja, próprias de um ecossistema específico, e que geralmente apresentam difícil adaptação fora de seu habitat. Elas possuem características muito particulares que ainda são desconhecidas por aqui”, esclarece a fundadora.
Por este motivo, ao perceber a inversão da demanda no Brasil, a executiva tomou a decisão de preservar as relações e o DNA de nicho da Sicilianess. “Incluímos em nossa oferta a nova vinícola da família Generazione Alessandro, pertencente a uma família tradicional siciliana que se especializou na criação de vinhos com personalidade única, produzidos na região do vulcão Etna. Eles têm como intuito produzir vinhos contemporâneos, que representem seu território, preservando a longa tradição e história siciliana.
Antes de trazer um vinho para o Brasil, a equipe da Sicilianess pesquisa cada produtor em seu território de origem e, em seguida, realiza uma análise cruzada com a identidade brasileira, as tendências observadas e também a expansão destes produtos em outros países. Os vinhos da Generazione Alessandro são um produto com alto nível de aderência no Brasil, com capacidade de preencher a boca em sua totalidade, gosto persistente e retrogosto elegante. São intensos, luminosos e ao mesmo tempo refinados, traduzindo a identidade do local onde são produzidos.
“Enxergamos o Brasil como um grande urso jovem e faminto. Quando acordado, é potente e vigoroso; pode avançar grandes passos em pouco tempo. Mas também pode hibernar por longo período, perdendo muita gordura e tendo que começar de novo”, avalia Ana.
Para ela, a filosofia da empresa de propiciar experiências exclusivas, únicas e inesquecíveis, remetendo a lugares especiais, é uma tendência que vem dando certo. A expectativa da Sicilianess é repetir o crescimento em torno dos 20% este ano em relação ao ano passado, especialmente por conta da continuidade da pandemia e das eleições, que interferirão diretamente na economia, no câmbio e no mercado de consumo. “Embora o produto importado tenha um custo mais elevado, temos muitos planos e estamos buscando parceiros para fazer investimentos”, destaca a fundadora da Sicilianess.