Em Cuiabá e Várzea Grande hoje existem 144 hotéis, o que representa 12 mil leitos
Por JAD LARANJEIRA
Dois anos depois do Mundial de futebol, setor vive um de seus piores momentos
A frustração das expectativas no pós-Copa do Mundo, realizada há dois anos, e a crise econômica no Brasil impuseram ao setor hoteleiro da Grande Cuiabá uma das piores crises de sua história.
Somente neste ano, dois hotéis já foram fechados. Um deles deve se transformar em clínica médica. Acredita-se que, nos últimos meses, 20% dos funcionários tenham sido demitidos.
Em Cuiabá e Várzea Grande existem 144 estabelecimentos, o que representa 12 mil leitos. Segundo o presidente da Associação dos Hotéis de Mato Grosso, Bruno Delcaro, o setor tem hoje uma taxa média de ocupação de 50%. Isso quer dizer que apenas metade dos quartos tem sido utilizada.
?O que nos deixa mais preocupados é que os pequenos hotéis, os mais importantes da cadeia, estão sendo mais afetados. Porque quem cuida é dono e quem trabalha junto são familiares e alguns poucos funcionários. Todos são afetados, disse.
Delcaro acredita que o Governo do Estado planejou mal a Copa do Mundo em Cuiabá, também no setor de hospedagem.
O planejamento foi muito mal feito e o dinheiro mal aplicado por parte do Governo. Se esse mesmo dinheiro fosse investido em outras ações, com toda certeza teria gerado mais resultados positivos para o nosso setor. Acho que a ineficiência do Governo nessa questão foi tremenda, classificou.
De acordo com Delcaro, Cuiabá foi quem mais sofreu com o aumento excessivo de leitos no período da Copa. Foram criados 14 novos hotéis, ou seja, mais 3 mil leitos. Boa parte deles hoje está ociosa.
Eu digo que estamos em uma crise dentro de outra crise. O pós-Copa nos trouxe um excesso de oferta e desregulou o mercado. Com a crise política, houve o aumento de custo. Então todo esse cenário é bem complicado. Nós temos hoje 12.700 leitos na Grande Cuiabá. Acredito que 9 mil leitos seria o ideal, afirmou.
Demissões
Segundo Carlos Peldiak, gerente do Hotel Intercity, no bairro Duque de Caxias, em Cuiabá, nos últimos meses houve uma redução de 25% no movimento. E, com a falta de hospedes, quem sofre é o empregado.
Nós estamos num mato sem cachorro no momento. Não temos expectativa de melhoria. A nossa parte estamos fazendo, que é ir atrás de clientes. Então, infelizmente, a gente tem que cortar na carne, que significa eliminar postos de trabalho. Se não tem cliente e não tem movimento, eu sou obrigado a cortar, explicou Peldiak.
Com rumores de que estaria fechando as portas, o tradicional Hotel Veneza, na Avenida Fernando Corrêa, nega a informação. O gerente Enos Pereira de Andrade diz, no entanto, que a situação não é a das melhores.
Eu acredito que houve uma ilusão com a Copa. Há meses em que a nossa taxa de ocupação chega a 20%. Houve também um aumento nos custos de modo geral e não podemos passar isso para o cliente. Então o que nós fizemos foi baixar o valor da diária e reduzir o número de funcionários, fazendo o máximo para não cair a qualidade no atendimento, disse.
O hotel existe há mais de 30 anos e comporta 80 apartamentos e 170 leitos. Nos últimos anos a média de ocupação – que era de 70%, – caiu para 35%.
Enos informa que a Polícia Federal chegou a cogitar alugar o local por um ano enquanto o prédio da Superintendência passasse por reformas, mas o hotel não se interessou pela proposta.
Turismo precário
O atual cenário do turismo em Mato Grosso é um dos fatores que mais preocupam os donos e gerentes de hotéis. Eles dizem que a reforma no aeroporto de Várzea Grande e a obra inacabada do VLT (Veículos Leves sobre Trilhos) já viraram motivo de chacota entre os turistas.
O turismo está enfraquecido. Para aqueles turistas que vêm de ano em ano ou até de seis em seis meses, essas obras inacabadas já viraram motivo de chacota. Não tem mais o que explicar nem o que dizer para tentar justificar aquele cenário, que é a primeira coisa que um turista vê quando chega aqui. Não podemos fazer nada. Isso assusta o turista, o empresário… Porque o investidor vai atrás de uma cidade que tenha logística melhor, afirmou Peldiak.
De acordo com o presidente da Associação, o foco agora é o turista estrangeiro.
Precisamos criar soluções práticas para esses hotéis que estão vazios. Para isso acontecer, estamos com foco no turista estrangeiro. Pensando em como trazê-los depois de uma Copa falida, de uma Olimpíada que podemos dizer que também vai ser falida e com essas notícias terríveis de zika e insegurança, disse Delcaro.
O empresário, que é dono do Delcas hotel, localizado na Fernando Corrêa, afirma que é necessário mais investimento para atrair turistas para a capital mato-grossense.
A Arena Pantanal tem um ótimo potencial. Estamos pleiteando que aconteça um Natal Luz porque é uma época em que a cidade esvazia e não tem nada. Esse é o momento de pegar um investimento daquele lugar e usar. Para isso é necessário que tenha uma administração naquele empreendimento para que consigamos incentivar as pessoas do interior a passar o final de semana aqui, ponderou.
O empresário informa que acontecerá um evento no dia 28 de julho para fornecedores da hotelaria e hoteleiros da região discutirem a cadeia de turismo.
O objetivo é que a gente consiga criar novos negócios que não existam no Estado, que é dependente do agronegócio. O turismo é uma fonte de receita que gera emprego e tem que ser trabalhado em todas as vertentes?, explicou.
Fonte: Midia News – http://goo.gl/oyaFa8