Aumento do ICMS para vinhos preocupa setor no Rio Grande do Sul

por Carlos Villela

Vinhos Rio Grande do Sul

Com vendas individuais em alta na pandemia, empresários vitivinícolas temem maior queda de competitividade – CASSIUS ANDR/DIVULGAÇÃO/JC

 

Um dos pontos mais controversos do projeto de reforma tributária apresentado pelo Executivo estadual, o aumento do ICMS do vinho de 18% para 25% foi recebido com receio pelo setor.

De acordo com o presidente da Vinícola Garibaldi, Oscar Ló, é necessário ter cautela em primeiro momento já que ainda não se tem pleno conhecimento sobre o projeto, que ainda não tem pré-texto, mas com as informações atuais ele se posiciona contrário a esse aumento.

“Se olhar para o setor do vinho, não tem mais espaço para aumento de impostos, pelo contrário”, afirma. “É uma demanda histórica do setor a redução de impostos”.

Hoje, o ICMS é 18% mas, com o crédito presumido, ele vai a 13%, um benefício concedido por conta da não competitividade do setor em relação aos vinhos importados, como os argentinos e chilenos que não pagam imposto de importação e tem custos mais baixos de produção e impostos em seus países de origem.

Para Ló, além da demanda histórica da redução de impostos, há também o pedido para a retirada da substituição tributária do suco de uva, que é o principal produto vitivinícola do Estado em volume. Além disso, há o receio que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia faça com que o setor fique ainda menos competitivo.

A ideia do Piratini é que o vinho gaúcho tenha um crédito presumido semelhante ao concedido pelo setor no estado de Santa Catarina, reduzindo a carga de tributo e ampliando a competitividade, mas ainda não há detalhes sobre qual será a proporção deste crédito.

O gerente da vinícola Campestre, André Donatti, acredita que é possível que não tenha tantas desvantagens considerando a inclusão do crédito presumido, mas que inevitavelmente vai pesar no bolso. Como ainda não há muita clareza sobre como o governo pretende prosseguir com isso, ele aponta que não há muita base para ter uma opinião concreta. “Como vinícola ficamos no aguardo, e como setor ainda não foi feita uma reunião virtual, porque na realidade está lançada a proposta mas ainda está um pouco coberta, não se sabe tudo”, explica. Ele diz que, à época do fim da substituição tributária – considerada uma vitória pelo setor no Rio Grande do Sul, a indústria vitivinicultora ganhou mais fôlego, mesmo sem tanto impacto para o consumidor final.

O diretor das lojas especializadas Vinhos do Mundo, Leocir Vanazzi, não acredita que o aumento vai ser aprovado sem nenhuma contrapartida. “Se passarem para 25% vai ficar muito caro, vai encarecer muito e acho que não sei se isso passa”, diz. Como empresário no setor de varejo, ele aponta que houve um aumento de vendas de produto para o consumidor final nos meses desde o início da pandemia, especialmente de vinhos mais caros, que passaram a ser comprados no País pelo impedimento de viagens internacionais, o que reflete no consumo interno. Entretanto, ele diz que no fim das contas ainda se sai perdendo porque o aumento no consumo individual não equaliza a queda nas vendas para outros setores. “Se nós considerarmos a perda de venda de espumantes e vinhos de preço médio para restaurantes e eventos, isso tudo se perdeu”, lamenta Vanazzi.

De acordo com Vanazzi, agora há esse novo consumidor que compra no país e permite um pequeno reflexo positivo, mas por outro lado houve uma queda de até 90% nas outras vendas. “Nós como distribuidores e vendedores de varejo perdemos muito na distribuição e ganhamos um pouquinho nesses novos clientes que passaram a consumir”. Ele destaca também a queda nas vendas de espumantes, uma bebida de caráter tipicamente comemorativo. Donatti também nota o crescimento na venda dos vinhos de mesa nos supermercados, levando a um bom momento para o vinho nacional por conta do impacto do câmbio nos vinhos importados.

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