Por Oscar Daudt
De frente pro mar
Há 3 anos, quando o Ristorante Vieira Souto inaugurou, fiz uma matéria no EnoEventos (clique aqui para recordar) elogiando o restaurante, mas surpreso com o descaso que a casa devotava a sua privilegiada localização, à beira-mar de Ipanema. A sala frontal era tratada como secundária e a porta que dava para a praia era permanentemente trancada. Tanto que eu nem lembrava que havia uma porta ali. À época escrevi: “Eu me arriscaria a dizer que o Vieira Souto é um restaurante de costas pro mar!”.
Três anos se passaram, a casa deu uma repaginada em seu posicionamento, trocou a equipe, despiu a formalidade, mudou sutilmente de nome (agora chama-se Casa Vieira Souto) e reconheceu a importância de seu endereço. A porta que não dava passagem foi aberta e a varandinha do térreo, que antes ficava sem serventia, agora abriga uma mesa que será, por certo, o ponto mais disputado da casa, para ver as garotas de Ipanema passar.
O esquema de funcionamento é um complementar três-em-um: uma champanheria, um bar de vinhos e um restaurante.
E para mim, foi uma alegria muito grande encontrar a casa sendo administrada por dois queridos amigos, que por muito tempo assinaram saudosas colunas aqui no EnoEventos: Luciana Plaas e Alexandre Lalas.
No comando das panelas
Pouca gente sabe, mas Luciana é formada em gastronomia pela Leiths School of Food and Wine, de Londres, e foi nessa cidade que ela iniciou sua trajetória, trabalhando no restaurante Kensington Place, no badalado bairro de Notting Hill. De volta ao Brasil, comandou um bufê de gastronomia e eventos e escreveu em guias e publicações especializadas.
Em sua nova empreitada, a chefe passou a tomar conta da cozinha da Casa Vieira Souto e, para nossa sorte, criou o cardápio a partir de seus gostos e experiências pessoais. A discreta troca de identidade do invejável endereço – de Ristorante para Casa – não foi em à toa, pois Luciana quer transmitir a descontração do lugar e o toque tradicional de sua cozinha, que passeia pelos grandes clássicos, como o Boeuf Bourgignon (uma delícia!) ou o Coq au Vin, e se exibe na brasilidade orgulhosa, como o Peixe do dia com banana da terra e pesto de jambu (imperdível a delicada dormência que provoca na boca) ou o Nhoque de espinafre com queijo Serra da Canastra.
Para mim, que sou fã declarado de menus-degustação, foi um surpresa muito agradável saber que Luciana acaba de introduzir nas opções da casa, não apenas uma, mas três fórmulas para seus clientes. Todas as 3 alternativas são compostas de 4 etapas e, para minha maior alegria, nenhuma delas é sobremesa. Há o Menu Terra por R$125, o Menu Mar por R$130 e o Menu Mar e Terra, por R$140. Vejam que os preços são prá lá de honestos, considerando o requinte do serviço e do ambiente, a localização da casa e a qualidade da cozinha.
E, se você quiser, o Lalas estará por perto para harmonizar a travessia com 2 vinhos (R$70) ou com 4 vinhos (R$140). Mas ele avisa: “Sou eu quem escolhe os vinhos!”.
Bar Taittinger
À entrada do restaurante, na sala de frente para o mar, onde a porta se abre para a praia de Ipanema, encontra-se a Champanheria Taittinger, com patrocínio da própria, onde os clientes podem se presentear com um sofisticado Champagne, apreciando a melhor vista do Rio com uma taça na mão.
Quando eu perguntei se poderia jantar nesse ambiente privilegiado, Lalas me respondeu: “Claro que pode! Aqui quem manda é o Tim Maia: Vale tudo!”. E pode também pedir um vinho ou um drinque dentre uma lista com muitas opções.
Vinhos inesperados
O forte da casa são os vinhos e a espetacular carta organizada por Lalas. À medida em que eu a conferia, vinham-me à lembrança as centenas de colunas que ele assinou por aqui. Era como se fosse um resumo. Eu comentei: “Lalas, essa carta tem a sua cara!” E ele, com um sorriso aberto, me deu a impressão de que era exatamente isso que ele queria que as pessoas compreendessem.
Não é uma carta óbvia! É, na verdade, o oposto de óbvia. Lalas me preveniu: “Você vai gostar!”. E ele estava certo. Audacioso, organizou a carta com os seguintes países classificados: Brasil, França, Itália e… demais países. Já me ganhou na chegada! Será o fim da ditadura do Chile e da Argentina nas cartas cariocas?
São muitos vinhos orgânicos, naturais, surpreendentes, elaborados por produtores que Lalas chama pelo primeiro nome. São vinhos difíceis de vender e que encalhariam facilmente em outra casa, mas a paixão com que Lalas os descreve faz com que qualquer um queira prová-los. Quando for visitar o restaurante, aconselho exigir que o próprio Lalas venha lhe atender e sugerir os vinhos.
Máquinas didáticas
No Wine Club, no segundo andar, existam 4 Enomatics, com 4 garrafas cada, oferecendo vinhos em dose para o cliente experimentar: 30, 60 e 120ml. Até aí, nada demais; outras casas também oferecem essa facilidade.
O diferencial está nas garrafas oferecidas, todas elas fora da curva – e algumas delas fora dos bolsos. Nos brancos, pode-se encontrar um laranja de Josko Gravner, o reverenciado papa desses vinhos: o Ribolla Gialla Anfora 2005 cuja garrafa é vendida por R$485 reais, mas que o cliente pode provar desde uma dose de R$33. É muita ousadia…
Mas mais ousado ainda foi encontrar, dentre os tintos, o emblemático Pêra-Manca 2010 (desde R$45 a dose) e principalmente o Roberto Voerzio Barolo Brunate 2003 (desde R$117 a dose) cuja garrafa está à venda por impensáveis R$1765,00. Para a maior parte dos consumidores, talvez seja a única maneira de conhecer esses vinhos reservados ao topo da pirâmide!