Crédito Augusto Tomasi
Em pouco mais de uma década, bebida teve um salto de consumo de 3.500%, passando de 0,1 para 3,6 milhões de litros comercializados anualmente por vinícolas gaúchas
Antes relegado das taças brasileiras, o espumante rosé tem se tornado cada vez mais um dos queridinhos do público nacional apreciador da bebida. Os números registrados ao longo de pouco mais de uma década provam como ele, literalmente, caiu no gosto do consumidor: se, em 2006, a comercialização anual das vinícolas gaúchas mal passou de 100 mil litros, ela agora alcança 3,6 milhões de litros — um salto de 3.500% nas vendas.
A consolidação, que foi ganhando corpo ano a ano, teve em 2018 o seu ápice. No ano passado, na comparação com o anterior (e também com 2015 e 2016, que se mantiveram estáveis), os números praticamente dobraram, de acordo com os dados do Cadastro Vinícola do Rio Grande do Sul, compilados pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). O avanço impulsionou de forma significativa a representatividade do rosé em relação ao total de espumantes consumidos, elevando sua participação de pouco mais de 10% para quase 19%.
O par perfeito
Um dos aspectos que mudaram esse posicionamento do rosé no país é, inegavelmente, a própria facilidade da bebida em se adaptar às mais diferentes ocasiões. “Vinhos espumantes rosés são extremamente versáteis, produtos que podem ser bebidos em um momento descontraído, como também são muito fáceis para harmonizar com comidas, por exemplo. Com pizzas, combinam sempre muito bem. A principal característica desse tipo de produto é o frescor equilibrado com a fruta” explica Bruno Cisilotto, Tecnólogo em Viticultura e Enologia no IFRS Campus Bento Gonçalves e doutorando em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Reafirmação no mercado
Na avaliação do enólogo Filipe Toledo, que também é sócio-proprietário da Outlet Vinhos & Espumantes, em Bento Gonçalves, a conquista de mais espaço teve origem em um momento de “reinvenção” da bebida. “O mercado oferecia produtos de qualidade quase sempre duvidosa com aquilo que se propunha para um vinho rosé. Nossa capacidade de elaboração com qualidade e excelência faz com que o mercado volte a receber os rosés, elaborados antes somente por variedades como Sangiovese, hoje com Cabernet Franc, Malbec, Pinot Noir, Tempranillo, entre outras mais conhecidas, como Cabernet Sauvignon e Merlot”, salienta.
Segundo Cisilotto, a pré-disposição da região para a elaboração de espumantes desse tipo, aliada a um empenho das empresas locais na fabricação e divulgação de novos produtos, contribuiu para a mudança neste cenário. “Nós temos um grande diferencial das demais regiões produtoras de espumantes na América do Sul, que é a preservação do frescor e acidez nas uvas. Conseguimos amadurecer as uvas e manter a acidez, o que é perfeito para esse tipo de produto. Temos capacidade de produzir grandes vinhos rosés, tanto vinhos tranquilos como espumantes. Outras regiões tradicionais, produtoras de vinhos tintos, não possuem essa mesma aptidão, devido à maior concentração de açúcares e diminuição dos ácidos orgânicos das uvas ao longo da maturação, o que torna os vinhos mais alcoólicos e menos ácidos. Temos que dar uma atenção especial para esse tipo de produto, que é tão versátil e que combina muito com o clima e a culinária brasileira”, acrescenta o profissional.
Bem na foto
Na era das redes sociais, esse retorno já poderia ser esperado: ainda que isso não possa ser evidenciado por números, o apelo visual do rosé nas garrafas e taças, inclusive nos cliques que vão para a internet, ilustrando de momentos despojados até celebrações mais formais, como casamentos, é outro fator que dá destaque à bebida. “Suas tonalidades podem variar muito, desde um rosa pink ou salmão, mais claros, até mais intensas, como o rosa cereja. Da mesma forma, os gostos e aromas de frutas vermelhas, provenientes das variedades de uvas tintas utilizadas na elaboração, acrescentam sabor e complexidade. A utilização de vinhos brancos e tintos no assemblage é interessante e pode aumentar muito a diversidade, tornando cada espumante único”, conclui Cisilotto.
Da Serra Gaúcha para o mundo
O sucesso conquistado pelo rosé ao longo dos últimos anos tem impulsionado novas criações dos produtores da Serra Gaúcha, que entregam ao mercado exemplares em nível de plena disputa com países consagrados na elaboração da bebida. Na capital nacional do espumante, por exemplo, surgiu em abril o primeiro Prosecco Rosé do Brasil, fabricado pela Cooperativa Vinícola Garibaldi.
A nova linha, cujo pioneirismo, ao que tudo indica, também é mundial, não chegou nem um pouco tímida. Com três meses de lançamento, arrebatou medalhas de ouro no concurso Catad’Or Wine Awards, no Chile, um dos mais respeitados da América Latina, e também na Grande Prova Vinhos do Brasil.
Um dos diferenciais do Garibaldi Prosecco Rosé Brut é carregar em sua composição cerca de 5% de uva Pinot Noir, responsável por imprimir a coloração rosada ao líquido. Ainda que mantenha as características delicadas dos tradicionais rosés, ele apresenta um perfil aromático mais complexo, entregando, ao degustador, notas florais, cítricas e de frutas vermelhas, que casam perfeitamente com saladas, peixes leves, frutos do mar, sopas cremosas, canapés e queijos.
Alta nas vendas
Consagrada em 2018 como a marca brasileira mais premiada em concursos nacionais e internacionais, acumulando 86 condecorações, a Garibaldi, que tem outras cinco opções rosés no portfólio, quer fechar este ano de forma ainda mais borbulhante. A julgar pelas 56 novas medalhas e pelo crescimento de 50% na comercialização de espumantes no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, a meta de evoluir em qualidade e quantidade será superada.
A estimativa da empresa é encerrar dezembro alcançando a produção de 18 milhões de litros, entre espumantes, sucos e vinhos, índice 20% maior do que em 2018. Nesse montante, os espumantes responderão por 20% do volume, mas representarão 38% do faturamento da cooperativa. “São números que refletem o nosso empenho em produzir espumantes de alto nível, capazes de competir com países tradicionais da América Latina e da Europa, mas também acessíveis ao nosso cliente brasileiro. Hoje, temos a certeza de que o consumidor nacional pode ter, no seu dia a dia, uma bebida de qualidade superior por um preço justo”, analisa o presidente da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Oscar Ló.
Total de litros de rosé comercializados pelas vinícolas gaúchas:
2006: 0,1 milhão
2007: 0,5 milhão
2008: 0,8 milhão
2009: 0,9 milhão
2010: 0,9 milhão
2011: 1,0 milhão
2012: 1,2 milhão
2013: 1,3 milhão
2014: 1,7 milhão
2015: 1,9 milhão
2016: 1,9 milhão
2017: 1,9 milhão
2018: 3,6 milhões
Fonte: Cadastro Vinícola (dados compilados pelo Ibravin)