Iniciada nesta terça-feira, greve de motoboys de aplicativos de entrega busca reivindicar melhorias para a categoria. FBHA destaca impactos para empresários e público consumidor.
Nesta terça-feira (29), entregadores e motoristas de aplicativos protagonizaram uma paralisação para reivindicar melhorias em serviços e condições oferecidas por empresas de delivery, como Uber, 99 e iFood. As greves e manifestações aconteceram por todo o Brasil, e um segundo ato está marcado para o dia 1º de abril.
As cidades que participam do chamado “apagão dos aplicativos” são: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Carapicuíba (SP), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Aracaju (SE), Teresina (PI), Manaus (AM), Recife (PE), Porto de Galinhas (PE), Vitória de Santo Antão (PE), Caruaru (PE), Garanhuns (PE), Petrolina (PE), Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR).
Segundo os trabalhadores de apps, os recentes aumentos no preço dos combustíveis diminuíram os ganhos com corridas e entregas. Entre as reivindicações estão melhores condições de trabalho, aumento da remuneração das corridas e a luta contra a alta no preço dos combustíveis. As principais empresas que as greves miram são as maiores dos setores de delivery no Brasil: Uber, 99 e iFood.
Os aplicativos de delivery são pauta antiga no setor de alimentação. Para a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação Fora do Lar (FBHA), o pleito é justo, mas gera discussões calorosas entre os integrantes do setor. Graças às entregas, a maior parte dos empreendimentos de alimentação fora do lar conseguiu manter as portas abertas. E esta tendência só cresce, com clientes cada vez mais ávidos por comodidade e diversidade. Por outro lado, é extremamente discutível, entre os empresários, o monopólio desses aplicativos.
“O principal problema dos aplicativos de delivery é a mudança da relação entre clientes e restaurantes, relação que sempre foi direta e de proximidade. Com os aplicativos como intermediários, os clientes passam a ser dessas empresas e não de quem está fornecendo o alimento. Isso faz com que os restaurantes entrem numa concorrência com os aplicativos e crie dificuldade de bares e restaurantes formarem equipe de logística, com seus próprios motoqueiros. Além disso, os próprios motoboys também reclamam por conta da questão da transparência dos pagamentos e dos valores da taxa de entrega dos aplicativos”, pontua Alexandre Sampaio, presidente da FBHA.
Concorrência desleal
O alto índice de pedidos nesses aplicativos, muitas vezes, se deve ao fato de que pratos completos são oferecidos por valores mais baratos do que em estabelecimentos físicos. A prática é considerada ilegal e é conhecida como dumping, que consiste na venda de produtos e/ou serviços por preços abaixo do seu valor justo para eliminar a concorrência. Isso sem mencionar que, por meio desses aplicativos que parecem facilitadores, cada vez surgem as “dark kitchens”, que são conhecidas como restaurantes fantasma ou restaurante virtual. Na prática, são estabelecimentos de alimentação que oferecem apenas comida para viagem.
“Para poder vender com segurança alimentar são necessários diversos recursos, que geram custos. Muitas das empresas não passam por fiscalização e nem tampouco cumprem com essas normas, o que gera uma concorrência desleal com os restaurantes físicos ou aqueles que possuem delivery próprio, assim como as empresas que não emitem notas fiscais”, finaliza Sampaio.
O impacto dos aplicativos no Brasil
De acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dos 4,4 milhões de trabalhadores do setor de transporte no Brasil, 1,4 milhão são entregadores e motoristas de aplicativos.
No Ifood, o principal aplicativo de food delivery do Brasil, tem cerca de 410 mil entregadores. Desse número, 160 mil são entregadores cadastrados na própria plataforma, ou seja, estão aptos a receber pedidos dos clientes do plano Entregas, e 250 mil são cadastrados fixos dos restaurantes. Atualmente, a empresa está disponível em mais de 1,7 mil municípios do Brasil.