Protocolo de ação contra o avanço do novo coronavirus impacta significativamente o turismo – inegavelmente um dos setores mais impactados pela pandemia. Prejuízo total no Brasil dependerá da curva de contaminação, cujo pico de notificações deverá se dar na segunda quinzena de abril.
O setor de turismo tem sido um dos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. De acordo com estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), somente na primeira quinzena de março, o volume de receitas do setor encolheu 16,7% em relação ao mesmo período do ano passado – uma perda equivalente a R$ 2,2 bilhões.
O estudo da CNC cruzou informações do Índice de Atividade do Turismo do IBGE com dados relativos ao fluxo de passageiros em voos domésticos e internacionais, levando-se em conta ainda a elasticidade entre a demanda por voos nos países mais infectados pela doença e o número de casos registrados de COVID-19.
As restrições impostas pelo protocolo de ação em nível global para frear o ritmo de expansão do novo vírus e o fechamento das fronteiras a estrangeiros em diversos países atingiram em cheio o deslocamento de passageiros no Brasil e no mundo. A despeito de medidas econômicas emergenciais adotadas mundo afora para mitigar os efeitos da pandemia, tanto no Brasil quanto no exterior, a queda no fluxo de passageiros tende a impor severas perdas ao turismo.
QUADRO I
VOLUME DE RECEITAS DO TURISMO E TRANSPORTE AÉREO DE PASSAGEIROS
(Nº de passageiros e índice de volume de receitas)
No Brasil não há razão para se esperar comportamento diferente na demanda por transporte aéreo de passageiros. Em virtude da dimensão do território brasileiro e da complexa logística rodoviária, o fluxo de passageiros nacionais e estrangeiros no transporte aéreo guarda forte correlação (81%) com a geração real de receitas no segmento turístico nacional.
Nas regiões mais afetadas pela disseminação de novos casos, a queda no nível de atividade do transporte aéreo foi significativa. Para cada aumento diário de 10% no número de novos casos, houve uma retração de 3,5% no fluxo de passageiros em relação ao dia anterior.
QUADRO II
EUROPA*: NÚMERO DE NOVOS CASOS DE COVID-19 E VARIAÇÃO % DIÁRIA NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
(Nº de passageiros e índice de volume de receitas)
Dos países mais impactados pelo COVID-19, a China é o único no qual a epidemia já foi controlada. Até o momento, mais de 800 mil chineses contraíram o novo vírus, segundo fontes oficiais locais. Naquele país, os primeiros registros começaram em meados de novembro, tendo a epidemia alcançado o pico de contaminações após cinquenta dias. Entre o pico e o controle da epidemia transcorreram mais 40 dias.
Portanto, caso a epidemia no território brasileiro siga o padrão chinês, o pico de contaminação se daria na segunda quinzena de abril. Todavia, ainda não é possível estimar como será a curva evolutiva do número total de casos no Brasil. Autoridades sanitárias do Rio de Janeiro, por exemplo, estimam o registro 24 mil casos até o final da epidemia. No estado de São Paulo, espera-se até 92 mil pessoas infectadas, excluídos os casos de subnotificação.
O setor de Turismo vinha liderando o processo de recuperação econômica desde o início da recessão no início de 2015. Não fosse a pandemia, seguramente, voltaríamos ao nível pré recessão – cenário agora descartado – até o fim deste ano.
QUADRO III
DEFASAGENS EM RELAÇÃO AO NÍVEL DE ATIVIDADE EM RELAÇÃO A DEZEMBRO DE 2014 SEGUNDO SETORES ECONÔMICOS
(%)
Um dos mais preocupantes desdobramentos da epidemia é o impacto que a paralisação das atividades econômicas provocará sobre a taxa de desemprego – uma herança negativa do período recessivo. Historicamente, para cada queda de 10% no volume de receitas do turismo, o nível de emprego no setor é impactado em 2%, ou seja, os prejuízos já sofridos pelo setor têm potencial casos de reduzir o nível de ocupação em 115,6 mil postos formais
QUADRO IV
ÍNDICE DE ADIVIDADE DO TURISMO
(Var.% anual)