<P><STRONG><FONT size=3>Vinho branco já era conhecido ha 3300 anos no Egito</FONT></STRONG> </P>
<P align=justify>Em 2006, pesquisadores da Universidade de Barcelona anunciaram, em trabalho publicado no "Journal of Archaeological Science" a descoberta de três ânforas vinicas. Em cada uma havia três tipos distintos de vinho: na ânfora situada aos pés do faraó, na direção leste da câmara funerária, havia vinho branco; na ânfora situada a oeste, sobre a cabeça do faraó, vinho tinto; e finalmente na ânfora situada ao sul, um tinto doce, licoroso, chamado shedeh.</P>
<P align=justify>A equipe que identificou o vinho branco era composta por Maria Rosa Guasch-Jané, Maite Ibern-Gómez, Cristina Andrés-Lacueva e Rosa Maria Lamuela-Raventós, do grupo de pesquisa de Antioxidantes Naturais do Departamento de Nutrição e Bromatologia da Faculdade de Farmácia, e Olga Jáuregui, dos Serviços Cientifico-Tecnicos da UB.</P>
<P align=justify>A ânfora na qual o vinho branco foi identificado encontra-se no Museu Egípcio do Cairo, e contem uma inscrição referente ao faraó e esta assinada pelo mestre vinhateiro Khaa. Tutancamon foi faraó da décima oitava dinastia(1333-1323 antes de Cristo) e sua tumba foi descoberta pelo egiptólogo britânico Howard Carter, no Vale dos Reis, em Luxor, em 1922. Segundo María Rosa Guasch-Jané, "as ânforas de vinho que estavam nas tumbas eram oferendas funerárias". "No Novo Império(1550-1070 antes de Cristo) as ânforas levavam inscrições sobre o produto e seu ano, e até dados sobre o vinicultor, mas nunca se referiam ao tipo de vinho que continham", completa Rosa María Lamuela-Raventós, diretora da investigação.</P>
<P align=justify>"No Egito antigo, o vinho era consumido principalmente pela família real e a alta classe", afirma Maria Rosa Guasch. Além do mais, o vinho tinha um simbolismo religioso muito importante para aquela cultura, e eram oferecidos aos mortos. Quando um faraó morria, os egípcios acreditavam que o universo só voltava a harmonia com um enterro apropriado, em ritual que permitiria uma caminhada segura rumo a vida eterna. Dentro desta ótica, entende-se que a disposição das três ânforas tinha um significado simbólico que os egiptólogos ainda não conhecem exatamente mas possuem hipóteses bem razoáveis para explicá-las, embora as pesquisas nesse sentido ainda prossigam.</P>
<P align=justify>Uma hipótese antiga eh que o vinho tinto simbolizava a ressurreição dos mortos, uma vez que esta bebida simbolizava o sangue do deus Osiris, o primeiro que renasceu entre os mortos(vejam portanto que o vinho tinto, representando sangue divino, não é primazia do cristianismo). Esta hipótese poderia explicar a ânfora situada a oeste da câmara funerária de Tutankamon: era a direção na qual o faraó deveria seguir para ressuscitar. Todavia, não ha hipóteses coerentes, ainda, para explicar por que a ânfora situada ao sul tinha shedeh, a leste vinho branco, e por que não havia uma quarta ânfora ao norte", admite Rosa Lamuela. </P>
<P align=justify>O trabalho, o primeiro ha conseguir distinguir os tipos de vinho nas ânforas de 3300 anos, baseou-se em analisar amostras dos resíduos, apos a total evaporação do vinho, das três ânforas da câmara funerária, bem como de outras cinco ânforas encontradas em câmara anexa. Estas oito ânforas foram especificamente selecionadas, entre as 26 do "enxoval" funerário de Tutancâmon, porque suas inscrições indicavam "irp" (vinho) ou shedeh (uma bebida cuja origem ainda se discute: alguns estudiosos do assunto acreditam que que se obtem da fermentação de uvas, e outros de frutas distintas como granadas). </P>
<P align=justify>De posse das amostras, primeiramente foi usada a técnica de cromatografia líquida para separar os vários componentes do resíduo, e depois uma espectrometria de massa para identificar cada ingrediente. Em todas as amostras identificou-se acido tartarico, uma substancia que proveniente somente das uvas e que demonstra que o shedeh é na realidade um tipo de vinho. Todavia, acido tartarico sozinho não é capaz de identificar se é vinho tinto ou branco.</P>
<P align=justify>Para averiguar, os pesquisadores da Un. de Barcelona desenvolveram uma técnica que detecta resíduos de malvidina(faz parte da categoria das antocianina, e é um dos principais pigmentos presentes na uva). Com o tempo, a malvidina desaparece e se transforma em substancias mais complexas a medida que o vinho envelhece. Por suas vez, estas mesmas substancias se decompõem, produzindo acido siríngico. Assim, basta submeter as amostras a reações químicas adequadas e verificar se ao final da reação produzem ácido siríngico. Este foi o procedimento adotado para verificar quais ânforas tinham vinho tinto(por exclusão, as ânforas que não produzissem este acido, era vinho branco). </P>
<P align=justify>Assim, na analise final do resíduo de cor escura da ânfora encontrada a oeste da câmara funerária, foi identificado acido siringico. Portanto, vinho tinto. No resíduo escuro da ânfora ao sul, na qual continha shedeh, também apareceu acido siríngico: vinho tinto novamente. Por fim, na ânfora a leste, em que havia resíduo de cor clara, não se encontrou rastro de ácido siríngico: portanto, vinho branco.</P>
<P align=justify>A pesquisa, financiada pela Fundação para a Cultura do Vinho e pelo grupo Codorniu, prova que os egípcios já elaboraram vinho branco 1500 anos antes do que se aceitava até aquele momento(2006). Antes desta pesquisa, as evidencias mais antigas de elaboração de vinho branco no Egito eram registros de 200 anos depois de Cristo. "O achado de vinho branco na câmara funerária de um faraó, acrescenta Lamuela, demonstra que, igualmente que ao vinho tinto, também se dava grande valor a ele".</P>
<P align=justify>Os melhores vinhos egípcios eram os cultivados no Delta do Rio Nilo e nos oasis do oeste. Na mitologia egípcia também se relacionava a cor vermelha, alem do sangue como descrito acima, a cor que o Nilo adquiria durante suas inundações anuais. Era graças a essas inundações que as terras às margens do rio Nilo ficavam fertilizadas, próprias para a agricultura. Assim, o vermelho simbolizava a vida, seja porque simbolizava o sangue sagrado, seja simbolizando a fertilização das terras de onde tiravam seus alimentos.</P>
<P align=justify>Durante o período transcorrido entre o Antigo Império(2575-2134 antes de Cristo) e o Novo Império (1550-1070 antes de Cristo), as tumbas dos nobres eram decoradas com imagens de vinicultura e elaboração do vinho. </P>
<P align=justify>Divulgação: Enogastronomia – Jandir Passos / Terra S/A / Foro egiptomania(Espanha)<BR></P>