Vinho Sassicaia de Bolgheri: o primeiro Supertoscano

por migracao

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O nome Sassicaia, em dialeto toscano, já diz muito sobre sua origem: pedras (sassi), pedregoso (sassoso). Ridicularizado nos primeiros anos e aclamado mais tarde, o vinho Sassicaia é o único na Itália que possui uma DOC (Denominazione di Origine Controllata) própria, a DOC Bolgheri Sassicaia. O caminho não foi fácil, mas graças a excelência e a originalidade de seu produtor – a Tenuta San Guido – o mundo viu nascer na década de 1970 algo novo: os vinhos Supertoscanos.



Bolgheri, na Toscana, a região inspiradora


Na costa toscana, na província de Livorno, a pequena cidade de Castagneto Carducci olha para o mar Tirreno. Ao leste uma cadeia de montanhas protege as vinhas dos ventos de inverno, enquanto no verão os ventos refrescantes ajudam na maturação gradual dos principais componentes qualitativos da uva. Sol direto e espelhado pelo mar é outra característica desse microclima.


Com grande variabilidade de solo, a região é dividida por colinas, zona intermediária e terrenos mais próximos do mar.



Tenuta San Guido


Os vinhedos estão espalhados de acordo com a exposição e tipo de solo por 90 hectares de terra. As vinhas são distribuídas entre 80 a 300 metros acima do nível do mar.


A separação das plantas em diferentes áreas oferece opções de escolha na hora da colheita, sendo um fator muito relevante na complexidade dos vinhos Sassicaia.


Foi essa linda paisagem, no começo do século XX, que inspirou um nobre marquês visionário.



Região de Bolgheri, Toscana e a vinícola Tenuta San Guido


A ambição do marquês Mario Incisa della Rocchetta


As histórias das invenções provam que nada surge puramente ao acaso. Sempre há um degrau anterior no qual um inovador se apoia para trazer ao mundo novas ideias.


Na década de 1920, o jovem marquês Mario Incisa della Rocchetta, de família de vinicultores e criadores de cavalos, via um cenário de desvalorização dos vinhos italianos. Excluindo casos isolados como Barolo e Brunello di Montalcino, os vinhos italianos eram vistos como abundantes, porém, simples e sem grandes ambições. A fama crescente dos vinhos franceses reduzia os tradicionais Chiantis a meros coadjuvantes.


Após o casamento com a marquesa Clarice Della Gherardesca, em 1930, recebeu como dote várias fazendas e o castelo chamado de Castiglioncello di Bolgheri.



Castiglioncello di Bolgheri


Em 1943 descobriu que seu avô Leopoldo Incisa della Rocchetta havia escrito, 80 anos atrás, um catálogo sobre os tipos de uvas nacionais e estrangeiras: “Descrição de 105 variedades de uvas indígenas e estrangeiras”. O marquês então, entusiasta admirador dos vinhos franceses de Bordeaux, imaginou criar um vinho nobre com castas francesas, porém, com essência italiana.


Ao encontrar a Cabernet Sauvingnon, concluiu:


“…encontrei o bouquet que eu estava procurando”.


Sua tacada genial foi ignorar os ensinamentos antigos, de que terrenos próximos ao mar não servem para produzir bons vinhos, e comparar a região pedregosa (sassosa) de Bolgheri ao terroir de Graves (cascalhos) de Bordeaux.


A iniciativa e determinação em reproduzir o corte bordalês (85% Cabernet Sauvignon e 15% Cabernet Franc) soava para seus conterrâneos uma teimosia descabida. Afinal a Toscana era a terra da uva Sangiovese.


No entanto, de 1948 a 1967, as garrafas de Sassicaia produzidas na Tenuta San Guido somente eram conhecidas pelos amigos das corridas de cavalos e familiares. E para o governo italiano, nada mais eram do que vino di tavola, ou vinhos de mesa.


Guardados nas adegas do castelo, onde o famoso poeta Giosuè Carducci, primeiro Nobel em literatura italiana criou seus versos, os vinhos evoluíram extraordinariamente, revelando um aprendizado: aqueles vinhos clamavam por paciência e amadurecimento.


Então, seu filho Nicolò Incisa o convenceu a comercializar o Sassicaia com a ajuda de Piero Antinori – produtor de outro supertoscano, o Tignanelo. Parte do acordo era incluir a participação do enólogo Giacomo Tachis, um discípulo de Emile Peynaud. Juntos, começaram a revolucionar a produção dos vinhos italianos. Sistemas de condução na plantação das videiras, uso de barris de carvalho, tanques de inox, fermentação malolática e outras inovações foram acrescentadas ao velho estilo italiano.



Nicolò Incisa junto com seu pai, o Marquês Mario Incisa della Rocchetta



O enólogo Giacomo Tachis


Nasce um ícone: o vinho Sassicaia


No histórico ano de 1968 o mundo recebia uma avalanche de mudanças no comportamento e costumes da sociedade com a contracultura, os direitos das mulheres e a rebeldia dos jovens. Nesse ano, a Tenuta San Guido ousava trazer para o mercado o primeiro Sassicaia.


Em 1974 o enólogo e crítico gastronômico Luigi Veronelli exalta as experiências em Bolgheri e chama atenção da comunidade de enófilos.


Em 1978 a revista Decanter classificou o Sassicaia safra 1972 como o melhor vinho do ano, reconhecendo definitivamente o trabalho do marquês.



Mesmo ignorado em seu país (por trabalhar com uvas estrangeiras, e portanto fora dos padrões estabelecidos pelas leis italianas de qualidade), o mundo decidiu batizar os ótimos vinhos “fora da lei” de Supertoscanos.


Nos anos seguintes, a experiência do Sassicaia foi seguida por outros vinhos que também alcançaram a fama como o Solaia, Tignanelo e Ornellaia.


Em 1994 o governo italiano se rendeu às inovações toscanas e criou uma DOC Bolgheri; fazendo justiça às contribuições inovadoras do marquês e seus amigos.


Com o aumento da procura, a fama do Sassicaia percorreu o globo. Em 2004 a vinícola Tenuta San Guido se tornou parte do prestigiado Primum Familiae Vini, um seleto grupo de famílias tradicionais de vitivinicultores, criado para a troca de experiências do setor.
Conclusão


O marquês Mario Incisa foi um apaixonado por sua terra natal Bolgheri e gostava do convívio com a natureza. Tanto que anos mais tarde foi o fundador da wwf Itália, inaugurando um oásis para preservação da vida selvagem da região. Morto em 4 de setembro de 1983, seu legado foi a reinvenção do vinho toscano.


A inovação do Sassicaia confirma o fato de que bons vinhos são produzidos por pessoas e ideias, e não somente uvas. Nos mostra que a modernização traz benefícios para os artistas produtores, fazendo com que os vinhos alcancem novos patamares.


Grazie mille marchese!


Fonte: VinumDay  –  http://goo.gl/e5CvAg

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